Portal do Conhecimento

Sistema de Gestão de Energia ISO 50001 aplicada a Processos Térmicos

O uso dos sistemas de gestão normatizados está bastante disseminado na indústria, principalmente os relacionados às normas ISO9001, ISO14001 e OSHAS 18001. Em Julho de 2011 a Associação Brasileira de Normas Técnicas lançou a norma brasileira ABNT NBR ISO 50001 que trata de SISTEMAS DE GESTÃO DE ENERGIA – REQUISITOS COM ORIENTAÇÕES PARA USO. Discutiremos neste artigo a sua utilização na área térmica.

O tema eficiência energética tem cada vez mais feito parte do discurso dos governos e das organizações industriais, pois é muito fácil compreender os benefícios de se produzir mais com menos energia. Porém, a prática é muito diferente da teoria. Eficiência energética exige, no mínimo, conhecimento das melhores técnicas, acesso aos melhores equipamentos, capital e manutenção contínua.

Algumas unidades de produção no Brasil possuem capital intelectual e financeiro para estarem atualizadas ou inclusive desenvolver novas tecnologias. Porém, é notável que muitos dos investimentos feitos para melhorar a eficiência energética de processos industriais são pouco acompanhados. Afinal, quanto se esperava reduzir de energia por tonelada processada, por exemplo? Este valor está sendo atingido? O que garante que se manterá nestes patamares? Um fator bastante relevante para esta manutenção é a mão de obra. A rotatividade da mão de obra causa perda de informações as quais são vitais para a obtenção do retorno esperado no investimento para aumento da eficiência energética. Portanto, notamos que a tão promovida eficiência energética também passa pela mão de operadores e mantenedores.

E é aí que vemos o grande benefício da ISO 50001. Em linhas gerais a norma exige que se faça o levantamento do consumo, melhor uso e eficiência da energia, passado e presente, relacionado às variáveis relevantes que afetam o uso significativo de energia. Por exemplo, através de um gráfico tem-se o consumo de gás natural utilizado no processo de pintura de veículos durante os últimos anos, em função dos meses, já que a temperatura ambiente é relevante. Ou seja, nos meses de verão, o consumo em kWh/veículo é menor do que nos meses de inverno. Após este levantamento são identificadas as áreas de uso significativo de energia, já que obviamente deve-se dar atenção aos maiores consumos e menores eficiências. Em seguida, uma das etapas mais complexas e relevantes: identificar oportunidades para melhora do desempenho energético nas áreas de consumo significativo. Nesta etapa os dados coletados podem ser comparados com valores referenciais como entre plantas semelhantes do mesmo grupo, plantas concorrentes ou valores teóricos. A partir destes dados são então criadas as Linhas de Base Energética, os Indicadores de Desempenho Energético, os Objetivos, as Metas e o Plano de Ação.

Após a implementação e operação do Plano de Ação tem-se a VERIFICAÇÃO CONTÍNUA através da MONITORAÇÃO, MEDIÇÃO E ANÁLISES. Não conformidades, correções, ações corretivas e preventivas são identificadas nesta etapa a qual está sujeita às auditorias. E como em todo sistema de gestão, estes dados passam pela Análise Crítica pela Direção e tem o objetivo da Melhoria Contínua, fechando o ciclo PDCA.

A ISO 50001 é, na nossa opinião, erroneamente vinculada exclusivamente à Gestão de Energia Elétrica. Temos defendido que a mesma seja aplicada em Gestão de Energia Térmica, já que nas indústrias, o consumo de energia térmica é muito maior do que o de energia elétrica. Dados do Balanço Energético Nacional, ano base 2012, elaborado pela EPE - Empresa de Pesquisa Energética, apontam o consumo de energia nas indústrias. Nota-se que a eletricidade representa apenas 20,3%. Bagaço de cana, carvão mineral e gás natural, combustíveis que geram energia através da combustão, um processo térmico, representam 44,2%, ou seja, mais do que o dobro.

Portanto concluímos que a ISO50001 pode ser uma importante ferramenta para o melhoramento contínuo dos processos térmicos industriais o qual trará benefícios econômicos e ambientais às indústrias brasileiras.